Maio 23, 2018
Um dos motivos pelosquais me apaixonei pelo João foi a sua inteligência emocional. À medida queíamos falando e nos íamos conhecendo, que me contava a(s) sua(s) histórias,achava que era alguém muito maduro com uma excelente capacidade de resposta àssuas emoções e às dos outros.
Um dia, elecontou-me que era adepto do Sporting. Eu não percebo muito mais de futebol doque saber que há 3 grandes e, achava eu, iam ganhando os 3. E foi aí quepercebi que o meu namorado pode ter a inteligência cognitiva e emocional de umaalforreca. Contou-me ele que ter amor ao seu clube é ter um amor genuíno,verdadeiro, que não espera recompensa, isto porque, afinal, o Sporting… não ganha.Portanto, estou perante o equivalente àquela gaja que se entrega de corpo ealma à booty call. Ao gajo que não lhe retribui os sentimentos e lhe ligabêbado, de madrugada, quando lhe apetecem batatinhas.
A primeira vezque presenciei o João a ver um jogo, descansei. Viu-o pacificamente, não gritouao árbitro nem aos jogadores, bebeu um vinhozinho que ainda nos proporcionou umaprazerosa noite e, pronto, pensei que, pelo menos, era um daqueles adeptoscalmos, racionais, que gosta pelo desporto e coiso. Enganei-me. O jogo não eraimportante e, por isso, estava calmo.
A segunda vez quevimos um jogo juntos (mais ou menos, que eu não vejo nada, fico só ali ao ladoa pensar nas minhas coisas ou a olhar para o telemóvel), por coincidência, foi,também, a segunda vez que jantei com os seus pais. Foi um drama. Houve portas batidas,saídas rompantes da sala onde estávamos. A mãe dele ficou com vergonha, eufiquei com vergonha, o pai dele tentou explicar-nos que era importante e que sejustificava o comportamento, ele lá ficou com vergonha, umas horas mais tarde,depois de lhe passar a telha e quando teve que me encarar. Passei a evitarestar no mesmo espaço físico que ele quando vê jogos e é nestas alturas quepercebo o seu amor ao Sporting. É o mesmo que sinto por ele.
Entretanto,descobri que o tal rapaz de inteligência emocional acima da média, também é supersticioso.Só com o Sporting. Deixou de ir ao estádio porque dá azar, veste umas cuecasespecificas em dia de jogo e, a cereja no topo do bolo, não vê os penaltisfeitos pela sua equipa, mas vê os da equipa adversária. O facto de ele estar aolhar para uma televisão, defende uma bola, num estádio, seja a que distanciaestiver, não estar a olhar, é o que vai permitir ao Bas Dost (as coisas que eupassei a saber!) enfiar a bola por ali a dentro. É esta rotaçãozinha dos seuspés, no conforto da sua sala, em Lisboa, que define todas as variáveis do jogo,do marcador, o guarda-redes, climáticas e “futebolásticas”.
Aqui há tempos,por azar, estava em viagem na primeira parte dum jogo em que o Sporting marcou.Na segunda parte, ao ver a coisa dificil, voltou para o carro. E lá esteve atéao fim. Aquele jogo em que houve prolongamentos e penaltis e tudo e tudo. OSporting ganhou e não tenham dúvidas, foi só porque o João foi para o carro.