Agosto 17, 2018
Moreno, barriga saliente da cerveja, estatura abaixo da média. Pode dizer-se que Luis é, fisicamente, um típico português. O cabelo comprido deve-o ao amor pelo heavy metal.
Depois dos 30, em busca de novas oportunidades, emigrou para a Irlanda, onde manteve esse grande amor pelo tipo de música. Manteve algumas rotinas. Os concertos e a vontade e capacidade de falar com tudo e com todos.
Num dia como os outros, num concerto como tantos outros, em conversas como tantas outras, conheceu a banda. Falou com o baixista. Alto, loiro, cabelo comprido como o seu, amor ao heavy metal como o seu. Tinham em comum aquilo que era comum naquelas circunstâncias. Contou-lhe o Ian que tinham também em comum o sangue português. O Ian era adoptado. A sua mãe biológica, sueca, tinha feito uma semana de férias em Portugal. No Bairro Alto, numa noite de copos, ter-se-ia encantado por um português, que lhe mostrou a cidade e a boa hospitalidade portuguesa. Já na Suécia, descobriu que tinha ficado grávida. Filha de uma família conservadora, fugiu para a Irlanda, com o pretexto de estudar, mas a intenção de esconder o resultado da sua aventura portuguesa. No final da gravidez entregou o filho a um casal irlandês que procurava adoptar e retomou a sua vida na Suécia. Deixou-lhe uma foto. A sua. Com o português com quem o concebeu.
Talvez com esperanças que o ajudasse a encontrar o pai, talvez por aquele ser o seu maior tesouro, Ian mostrou a Luis a foto do casal de uma noite.
Luis reconheceu o bar, reconheceu esse Bairro Alto, lembrou as suas próprias noites ébrias, de conversas tardias e ligações instantâneas.
Luis reconheceu-se naquela foto.
Meses depois, o teste de ADN confirmou. Naquela noite como as outras, num concerto como os outros, numa conversa como tantas outras, Luis conheceu o filho que não sabia ter. Ian, o sueco loiro, tão mais alto que ele, tão fisicamente diferente, tão igual em tudo o resto.
Nota: os nomes nesta história foram alterados para manter a privacidade dos seus intervenientes. Mas sim, esta história é real. Luis, meu amigo, ganhou um filho de 18 anos ao emigrar para o mesmo país onde a mãe o teria deixado à nascença. A ciência confirmou. São pai e filho.